Como sobreviver em Los Angeles sem carro

Uma das coisas que quem visita ou se muda para Los Angeles percebe de imediato é a dependência do carro que domina a cidade. Uma das maiores áreas metropolitanas dos EUA, Los Angeles é mesmo metro: aqui é muito comum trabalhar numa cidade, estudar em outra e morar em uma terceira. E isso só é possível com o sistema extenso e complexo de rodovias que cortam a cidade e mudam completamente o estilo de vida e a cultura angelina.

Los Angeles: onde as rodovias são o cartão postal. (Link pra fonte).

Apesar de considerado um item essencial aqui, o carro está aos poucos perdendo o domínio na cidade e esse post é para mostrar algumas dicas de como sobreviver aqui sem dirigir. Curiosamente não foram os carros que permitiram que a cidade se expandisse para essa escala, mas sim os trens.

Inicialmente, o que é hoje a região de Los Angeles eram várias cidades pequenas, e para trabalhar aqui as pessoas moravam em Los Angeles ou em Pasadena. Com a implantação de mais ferrovias, no início do século XX, as distâncias se encurtaram e passou a ser possível morar nas praias e trabalhar no centro da cidade. Assim, áreas como Santa Mônica, que antes eram lugares de férias e fim de semana, passaram a ser moradia.

Após a Segunda Guerra Mundial, Robert Moses e outros urbanistas americanos começam a executar mega obras e a implementar políticas urbanas a favor do carro, como as parkways, primeiro tipo de via expressa americana, que depois evoluíram em freeways e highways. Los Angeles, uma cidade livre de tradições e pronta a experimentação, adotou essas políticas de forma drástica, e a cidade se expandiu ainda mais.

Tudo isso criou uma cultura do carro e da velocidade. Em seu livro Los Angeles: a arquitetura das quatro ecologias, Reyner Banham descreve o caráter da arquitetura gerada por essa política: grande, cercada de espaços vazios e feita para ser vista de longe e em altas velocidades.

Assim, não é surpresa ver que quem se muda para cá considera o carro um item essencial e as freeways estão cheias de motoristas estressados enquanto as vias locais estão vazias. No entanto, nas últimas três décadas, a cidade vem fazendo esforços cada vez maiores para popularizar o transporte coletivo na cidade. Em apenas 25 anos foram implantadas 6 linhas de metrô e 2 de ônibus rápidos, alem das linhas de ônibus comuns. Apesar de ainda limitado, o transporte público existe e atende a diversas situações que possam acontecer na cidade, portanto uma pesquisa verificando se dá pra usar o transporte público ao invés do carro é sempre válida.

Tipos de transporte e agências concessionárias 

Existem diversos modais na cidade, que vão a diferentes contextos. O transporte municipal de Los Angeles é o da Metro, que administra linhas de ônibus e trens de metrô. Essas linhas no entanto vão a outras cidades, como Santa Mônica, Culver City e Pasadena por exemplo. Assim, pelo preço da tarifa municipal você pode ir a outras cidades também.

Mapa geral do sistema. Fonte: LA Metro, 2015.

Existem três tipos de ônibus:

• Dash (ônibus circular): são ônibus de linhas curtas que circulam em certas áreas da cidade. As paradas são frequentes e a tarifa é baixa: pagando com dinheiros (moedas, não há troco) custa 50 centavos e pagando com o cartão custa 35 centavos. São linhas super frequentes é bem úteis principalmente na área de Downtown.
• Metro local (ônibus de linha local, laranja): são ônibus de linha comum, porém linhas mais longas que os Dash. As paradas são frequentes e os ônibus podem ser simples ou articulados (dois carros). Custam 1,75 independente da forma de pagamento, porém pagando com dinheiro não há troco.
• Metro rapid (ônibus expresso, vermelho): são ônibus de linhas mais longas, com menos paradas.  As paradas acontecem em intervalos maiores, e eles cobrem grandes distância, indo a outras cidades. Normalmente são articulados podendo ser ônibus simples. Custam 1,75 independente da forma de pagamento.

A metro rail são os trens urbanos, podendo ser subterrâneos ou não. A distância entre as paradas varia muito. A tarifa custa 1,75 e só pode ser paga com o cartão de metrô, chamado de Tap Card, disponível para compra em todas as estações.

Mapa oficial com linhas atuais e expansões em andamento. Fonte: LA Metro, 2015.

A melhor opção é sempre comprar um cartão em uma estação de metrô e ir recarregando. Cada cartão custa 1 dólar e pode ser recarregado. Existem diversas modalidades de cartão, e algumas tem uso mais limitado:

• Cartão com valor monetário (stored value): você regarrega qualquer valor e vai pagando por passagem. Funciona em todas as linhas Metro, inclusive nos Dash, e pagando com esse cartão fica mais barata a tarifa do Dash do que pagar em dinheiro. As transferências entre ônibus normais (local e rapid) e trens são grátis, ou seja, você paga apenas uma passagem. A transferência grátis vale por duas horas entre linhas.
• Cartão com número de viagens: você paga um valor e recarrega um número de viagens. Vale em todos os modais. Não é muito útil na minha opinião (se alguém souber alguma situação em que esse tipo de cartão é útil me conta aqui nos comentários).
• Cartão com passe ilimitado: você pode comprar passe de 1 dia, 7 dias, 1 mês etc. Nesse tempo as viagens são ilimitadas, exceto nos ônibus Dash. Vale a pena pra quem quer turistar muito sem depender do carro ou quem usa o transporte público todos os dias.

Além do uso no transporte metropolitano o Tap pode ser usado para pagar a tarifa em ônibus de cerca de 24 sistemas de transporte na área metropolitana, como Santa Clarita, ainda no condado de Los Angeles. Nas cidades vizinhas existem as linhas municipais como o Big Blue Bus (Santa Mônica). Também há os trens da Metrolink e da Amtrak, que saem da Union Station e vão para cidades vizinhas. O Metrolink é em geral mais barato que o Amtrak mas tem menos horários, portanto é bom se programar.

Dicas essenciais

• Compre um Tap Card numa estação de metrô. Mesmo se você só usar ônibus é bem mais conveniente.
• Pesquise antes seu itinerário e os horários do transporte tanto para ida quanto para volta. O metrô é bem frequente, mas com trens e ônibus as coisas podem se complicar.
• Entenda que a cidade é enorme e os trajetos são longos. Não se estresse e aprecie a paisagem estranha e intrigante que só existe aqui.
• A cidade é cheia de eventos que são acessíveis por transporte público, principalmente no verão. Aproveite a oportunidade.
• A passagem do Metrolink inclui transferências grátis para Metro. Use.

Lugares que são acessíveis por transporte público

• Pasadena: você pode ir a Old Town (distrito histórico) pela linha Gold que vai da zona leste a Pasadena passando pela Union Station, Chinatown e Little Tokyo. 
• Downtown: as linhas Gold, Red, Purple, Blue e Expo vão a diversos lugares de Downtown. Os trajetos variam mas incluem Financial District, Arts District, Civic Center e El Pueblo.
• Califórnia Science Museum: acessível pela linha Expo (Downtown – Culver City).
• Hollywood e calçada da fama: acessíveis pela linha Red do metrô.
• Universal Studios: acessível pela linha Red do metrô.
• Venice Beach: use a linha 733 saindo da Union Station
• Santa Mônica: linhas 704, 720 e 733 de ônibus. A partir do ano de 2016 também será acessível pela linha Expo do metrô.

Esses são lugares relativamente fáceis de chegar. Lugares que não estão nessa lista provavelmente são acessíveis por transporte público, mas possivelmente com itinerários mais complicados que incluem diversas transferências. É sempre vantagem ficar em áreas que tenham acesso a transporte público mesmo que você pretenda dirigir. Pode vir a calhar em um dia de cansaço por exemplo.

Portanto viver aqui sem carro é possível sim. Exige um certo planejamento e comprometimento: aqueles princípios básicos de morar perto do trabalho ou da escola ou perto de linhas principais do transporte de massas. Não é nenhuma novidade mas vejo que muitas pessoas não prestam atenção nisso quando dirigem com frequência e acabam sofrendo as consequencias depois com estresse e tempos de deslocamento até maiores dependendo das circunstâncias. Viver na cidade é isso, é viver na coletividade e usar infra estrutura que atende a mais pessoas. Assim, o carro pode ficar para circunstâncias especiais como viagens de fim de semana ou emergências. Economiza saúde e dinheiro.

Passeios que eu já fiz sem carro, fora os já citados anteriormente:

• San Clemente

Links úteis:

• Site da Metrolink;
• Site da Metro (projetos atuais).
• Mapas da Metro